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sábado, 19 de maio de 2012

Kurt Goldstein



Kurt Goldstein

Kurt Goldstein (nasceu em 6 de novembro de 1878 – faleceu em19 de setembro de 1965) foi um neurologista e psiquiatra alemão e judeu. Pioneiro em neuropsicologia moderna e co-editor do Jornal of Humanistic Psychology. Ele criou uma teoria holística do organismo, com base na teoria da Gestalt que influenciou profundamente o desenvolvimento da Gestalt-terapia. Seu livro mais importante é "O Organismo" (1934), em alemão: Der Aufbau des Organismus.[1]



Kurt Goldstein nasceu em uma grande família judaica. Após a sua formação inicial ele estudou Filosofia na Universidade de Heidelberg, antes de ir para a Universidade de Breslau, onde estudou Medicina. Em Breslau, Goldstein serviu como um assistente de laboratório deLudwig Edinger e estudou com Carl Wernicke. Goldstein publicou uma pequena enfermaria de neurologia, e depois da morte de Edinger, assumiu o papel de professor de neurologia.

Após a Primeira Guerra Mundial, Goldstein aproveitou o grande número de lesões cerebrais traumáticas na clínica e estabeleceu o Instituto de investigação sobre as consequências de lesões cerebrais e com isso desenvolveu a teoria das relações cérebro-mente.[2]

Em 1930, Goldstein aceitou uma posição na Universidade de Berlim. Em 1933, o Partido Nazista subiu ao poder e Goldstein foi preso e encarcerado em um porão. Depois de uma semana ele foi libertado sob a condição de deixar o país imediatamente e nunca voltar. Em 1934, vivendo em Amsterdão, e apoiado pela Fundação Rockefeller, e escreveu sua obra principal: O Organismo. Goldstein emigrou para os EUAem 1935 e tornou-se um cidadão americano em 1940.



Kurt Goldstein era um adepto da Psicologia da Gestalt e, apoiando-se sobre a lei de figura e fundo, descrita por esta escola para explicar os processos de percepção no homem, adota esta noção da percepção como uma dinâmica na formação de figuras e fundos para buscar um modelo referencial adequado para tratar da natureza do homem. A preocupação deste teórico e pesquisador era buscar um modelo holístico que pudesse explicar as mudanças de personalidade apresentadas por pacientes que haviam sofrido lesões cerebrais permanentes. Kurt Goldstein não acreditava na possibilidade de entender estes indivíduos dentro de um ponto de vista que valorizasse apenas as mudanças no ambiente (dados sócio-culturais ou geográficos), nem apenas os aspectos meramente físicos de suas doenças (lesões cerebrais). O que ele verificara é que a personalidade total destes indivíduos mudava em função das lesões sofridas, não podendo esta mudança ser entendida apenas como meros reflexos físicos destas lesões.

Grande parte das considerações feitas por Kurt Goldstein em seu livro “The Organism”, publicado na década de 50 e recentemente reeditado nos Estados Unidos graças ao esforço do neurofisiologista Oliver Sacks, são transpostas pela Gestalt Terapia para explicar o processo de auto-regulação organísmica do homem de modo abrangente. É importante ressaltar que os estudos efetuados por Kurt Goldstein foram basicamente implementados dentro da área de pesquisas da neurofisiologia dedicada a acompanhar as mudanças que ocorriam em pessoas vítimas de seqüelas produzidas por diversos tipos de lesões cerebrais causadas por ferimentos de guerrA

1 - A teoria organísmica-holística de Kurt Godstein como parâmetro para a construção de uma teoria da personalidade humana.

A preocupação do autor em buscar uma abordagem holística na biologia e a direta conexão com suas pesquisas na área das patologias neurofisiológicas. Kurt Goldstein não propunha a se dedicar ao estudo do comportamento humano do ponto de vista psicológico e sim biológico, mesmo que holisticamente compreendendo não ser possível isolar estas áreas de estudo, também não pretendeu criar leis ou premissas que pudessem ser aplicadas de modo amplo aos modelos normais de comportamento humano. Seu modelo, mesmo que inovador e crítico em relação ao método preponderante de estudo nas pesquisas naturais, é ainda um modelo biológico e voltado para o estudo de fenômenos patológicos. a riqueza da teoria organísmica presente na obra de Kurt Goldstein foi enriquecedora e fundamental para a visão de homem, ainda não muito mudada, na teoria da abordagem gestáltica.

No prefácio do livro “The Organism” já fica clara a intenção do autor de propor um novo método para o estudo dos seres vivos, principalmente o homem. Este método, chamado de holítistico, propunha-se a entender o organismo como um todo e não como a soma de partes isoladas. Pelo método holístico, nenhum tipo de experiência deve ser excluída, ao se estudar os seres vivos - toda e qualquer forma de experiência é válida para o entendimento global do funcionamento deste ser. Quanto à visão de ser humano, contida na teoria holística de Kurt Goldstein, este defendia que o sentido de “ser” só é possível através da experiência conjunta de existência com os outros e no mundo( teoria do campo)



AUTO REGULAÇÃO

Goldstein definia a auto-regulação organísmica como uma forma do organismo de interagir com o mundo, segundo a qual o organismo pode se atualizar, respeitando a sua natureza, do melhor modo possível. Este lidar com o meio pode se dar tanto através de reações de aceitação e adaptação a este, quanto também através de ações de rejeição e fuga do mesmo. Quanto à continuidade do sistema é ameaçada pelo contato com o meio, a retirada do contato é uma tentativa de adaptação do organismo. Esta noção de fuga, de resistência, como respostas também de equilibração, é claramente levada para o campo conceitual da Gestalt terapia



QUANTO AOS SINTOMAS

Quanto a noção de sintoma, a Gestalt terapia tinha o claro objetivo de construir uma conceituação bastante diversa das teorias psicopatológicas preponderantes na psicologia, no momento de sua criação. Kurt Goldstein já defendia que os sintomas deveriam ser encarados como tentativas de adaptação do organismo, como respostas deste buscando equilibrar-se entre as demandas do meio e as necessidades prioritárias para o funcionamento do organismo. Um mesmo distúrbio pode ser a base de sintomas bastante distintos em indivíduos diferentes ou em momentos de vida diversos de um mesmo indivíduo. Não há uma regra clara e simples para descrever sintomas esperados a partir de um distúrbio diagnosticado. A ressalva que Kurt Goldstein faz é de que, de um modo geral, quando o organismo é confrontado a executar uma tarefa que, por qualquer razão, não está habilitado a executá-la, ele apresentará um comportamento desordenado diante da situação. Goldstein destacava que estas situações de ser provocado a realizar algo que não tem condições de fazer geravam, o que podemos chamar, de grande ansiedade no organismo e que os comportamentos desordenados resultantes são comportamentos desarmônicos, tanto do ponto de vista do organismo, quanto do meio ambiente. No homem isto levava há um fenômeno descrito por Goldstein, principalmente nos casos de indivíduos lesionados cerebralmente, onde o sujeito evitava, de todos os modos possíveis, expor-se às situações onde fosse necessária a execução de ações que não estivesse apto a executar. Goldstein apontava como uma conseqüência, do descrito acima, uma tendência destes pacientes em buscar comportamentos padronizados de ordem, uma tendência em evitar experiências que pudessem gerar qualquer sensação de vazio, de desordenação. Fritz Perls amplia esta noção para descrever comportamentos presentes nos mecanismos neuróticos, onde esta evitação da novidade, de situações geradoras de sensação de vazio, também se faz notar como uma tentativa neurótica de padronização de modos de atuação já conhecidos

ORGANISMO COMO UMA UNIDADE

Goldstein já trazia o pensamento sistêmico para constituir as bases da teoria organísmica. Dentro desta visão, o organismo é compreendido em si como um sistema, que funciona como uma unidade, sendo que qualquer estímulo que atinja este organismo em qualquer um dos seus subsistemas, necessariamente promoverá mudanças na unidade total. Os padrões de resposta (perfomances) desta unidade são guiados por um objetivo único – a busca de equilíbrio do sistema global. Kurt Goldstein já dizia que este modo de funcionamento se dava de forma semelhante à lei de figura-fundo da Psicologia da Gestalt para explicar os fenômenos perceptivos. Fritz Perls irá ainda mais longe, estendendo a lei de figura-fundo para todas as áreas de funcionamento do homem. Sendo assim, a emergência de tarefas, desafios, ou ações necessárias ao bom funcionamento do organismo surgem como figuras que se destacam como prioridades para o indivíduo. Estes desafios conforme Goldstein, Perls chamará meramente de necessidades. Goldstein dizia que estas eram definidas pela “essência” (dotação natural) do organismo. As mesmas são atualizadas diante das mudanças trazidas pela relação com o meio circundante, que está interagindo permanentemente com o organismo total. O equilíbrio acontece quando o organismo consegue se atualizar através de suas performance, lidando simultaneamente com as demandas do meio.

TEORIA DOS INSTINTOS E REFLEXOS

Goldstein trouxe importantes contribuições para as teorias dos instintos e dos reflexos. Ele destacou que os reflexos também deveriam ser estudados e explicados dentro de uma visão holística – que assim como qualquer outra reação do organismo eles deveriam ser entendidos como uma resposta do organismo de modo global. Ele mostrou que um reflexo não sofria modificações relativas apenas ao estado geral do organismo, premissa esta já aceita na teoria dos reflexos vigentes, mas sim que desde o início as reações do organismo estão condicionadas pelo campo muito mais além do que o do arco-reflexo. Goldstein opunha-se, radicalmente, a visão que defendia que as perfomances do organismo seriam uma mera composição de reflexos. Até mesmo as ações instintivas também só poderiam ser compreendidas do ponto de vista holístico, ou seja, como referentes ao organismo como um todo e de acordo com as diversidades de cada situação.

REFLEXOS CONDICIONADOS

Goldstein não descartava a importância da formação de reflexos condicionados para o processo educativo da criança. Ele defendia que alguns hábitos (citando especificamente a formação de hábitos relativos ao toalete) eram adquiridos através da formação de reflexos condicionados. No entanto, com o amadurecimento desta criança, haveria uma integração destes hábitos com uma reflexão (insight) sobre estes, levando a execução de comportamentos intencionais. A maturação dotaria então o organismo da capacidade de lidar de modo satisfatório com situações novas. Sendo assim, quanto mais madura a criança menos ela apresentará comportamentos governados por instintos. Nesta linha de pensamento, Goldstein trouxe considerações muito inovadoras sobre o conceito de drives*. Ele questionou o pensamento vigente que pregava que o objetivo primeiro dos drives (impulsos) seria o de descarregar o organismo de algum excesso de tensão. Na realidade, Goldstein acreditava que esta tendência à descarga de tensão como a prioridade do organismo é uma expressão de desarranjo, de mau funcionamento do mesmo.

A lei que governaria o funcionamento dos organismos era, para a Goldstein, a da tendência para atualizar-se. Segundo suas palavras:

"Podemos dizer que um organismo é regido pela tendência arealizar, tanto quanto possível, as suas capacidades individuais, a sua" natureza "do mundo. Essa natureza é o que chamamos deconstituição psicossomática, ... Esta tendência para realizar sua natureza, para realizar "em si", é a unidade básica, a única unidadepela qual a vida do organismo é determinado. "(P. 162)



RESPOSTA HARMÔNICA E DESARMÔNICA

Então, compreendendo o processo de busca de auto-atualização como um processo holisticamente natural do organismo, como uma potencialidade intrínseca do ser humano, Goldstein afirmava que quando o indivíduo apresentava respostas antagônicas ou desarmônicas a este princípio é por que este estava submetido a condições inadequadas de funcionamento harmônico do indivíduo. Ele dizia que no caso da ansiedade as variações das respostas desarmônicas poderiam ser entendidas pelo grau de severidade da experiência de perigo ou de dano ao qual o indivíduo estava sendo submetido.

Goldstein dizia que, na realidade, não é correto afirmar que uma pessoa tem um sentimento de ansiedade, mas sim, que esta pessoa é a personificação do estado ansioso em um dado momento. Ou seja, assim como as respostas catastróficas dos pacientes lesionados, o fenômeno da ansiedade diz respeito à experiência vivida por uma pessoa quando ela se defronta com sua impossibilidade de reagir diante de demandas do meio. Ou seja, para se compreender o fenômeno da ansiedade é primordial compreender também o meio específico desta situação.

Goldstein compreendia que no funcionamento do indivíduo normal poderíamos verificar dois movimentos distintos na sua interação com o meio – um que busca evitar a experiência da ansiedade através da criação de padrões de conduta e de mecanismos esteriotipados para lidar com as situações, e outro, igualmente importante, que leva o indivíduo a buscar novas experiências através da expansão de suas possibilidades de ação e de reflexão. Neste sentido, Goldstein deu grande importância ao papel da criatividade como um dos potenciais naturais do ser humano que lhe possibilitam se auto-regular. Ou seja, evitação de ansiedade e busca da novidade, da mudança, são movimentos igualmente importantes para o processo de auto-regulação do sujeito.



PADRÕES DIFERENTES DE COMPORTAMENTO

Goldstein descrevia três padrões diferentes do comportamento do indivíduo – o que ele nomeava performace estaria relacionado ao comportamento consciente, as atitudes que estariam ligadas aos estados internos nos quais ele incluía os sentimentos, humores e afetos e os processos fisiológicos que se relacionariam aos eventos somáticos. A estes três aspectos do comportamento corresponderiam os conceitos tão conhecidos de mente, alma e corpo. Goldstein destacava que é fundamental entender que esta distinção é artificial, é um artifício para se compreender aspectos isolados do comportamento total do indivíduo. Algumas vezes estes modos do comportamento poderiam aparecer como entidades de fato isoladas, mas seria um fenômeno compreensível pela lei de figura-fundo, a qual possibilitaria explicar que haja, temporariamente, um destaque para um dos campos da experiência mas estando os outros aspectos do comportamento compondo o fundo da realidade global do homem. Sendo assim, o pensamento só pode se dar de modo conjunto com uma experiência emocional em um ser que experimenta um estado de corporeidade. Esta visão de Kurt Goldstein trouxe uma nova possibilidade para o entendimento do dito inconsciente – àquilo que não está presente na consciência em um determinado momento compõe um fundo também constituinte do todo do ser global. Esta noção de consciente e inconsciente como possibilidades intercambiáveis do comportamento do homem se manifestar, também foi adotada pela teoria da gestalt terapia.



SUA OBRA NA PRATICA QUANTO A DOENÇA

Para se entender a doença é necessário partir de uma concepção da natureza daquele indivíduo. A doença é vista como um distúrbio no processo vital do homem (auto-regulação organísmica) diante de uma situação que o coloca em risco. Para que haja uma reabilitação deste estar doente é imprescindível que um novo modo de funcionamento, individual, surja permitindo uma adequação as restrições experimentadas. Então, o bem estar se apresenta como um novo modo harmônico de funcionamento, dado que o antes experimentado já não é mais viável. Deste modo, podemos pensar que a possibilidade de mudar surge como uma habilidade do indivíduo de restaurar seu bem estar. Apenas em condições patológicas é que a tendência em tentar preservar um estado inalterado de comportamento se manifesta, ele considera que qualquer mudança nesta unidade é consoante com um mudança que também ocorre no meio. A necessidade de um olhar individual sobre as alterações apresentadas por uma pessoa doente não significa a defesa de um olhar individualista pois, este sujeito, é um ser social que manifesta uma doença não desvinculadamente de sua experiência global.

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